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Posts Tagged ‘Câmara de Lobos’

Contrariamente ao que algumas criaturas escreveram no Facebook, não sou eu que devo provar que, em 1430, ainda não existia a freguesia de Câmara de Lobos. Mas, sim, quem inventou essa data. Esses, sim, devem apresentar a sua fundamentação para o ano que dizem ser o da criação da freguesia.

Sei (a documentação histórica pode atestar e outros historiadores também já o afirmaram) que, em 1430, não existia a freguesia de Câmara de Lobos. Isto, sim, pode ser comprovado por quem sabe ler a documentação existente no Arquivo Regional da Madeira.

Infelizmente, nesta terra, alguns políticos mostram-se hábeis em fabricar datas para as efemérides que pretendem comemorar.

Já escrevi várias vezes sobre datas falsas na RAM. Mas é difícil fazer passar uma mensagem a quem não quer conhecer a História da Madeira e se empenha na falsificação.

E assim continuam a asneirar… esperando que a mentira, por tanto ser repetida e celebrada, acabe por se impor. Não contem comigo para lhes dar cobertura. Comemorem o “Dia da Freguesia” quando quiserem, mas deixem-se de inventar datas da sua criação.

23-01-2024

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Câmara de Lobos: feriado municipal

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A data escolhida para assinalar o dia do município constitui uma deliberação política, que procura ter em conta uma efeméride com particular significado na História local ou um dia tradicionalmente assinalado no quotidiano do concelho e reconhecido em todo o território.

Presentemente, o município câmara-lobense celebra o seu dia em 16 de Outubro, conforme deliberação de 10 de Novembro de 1977, que revogou o anterior feriado municipal, comemorado a 20 de Janeiro, o dia de São Sebastião, padroeiro da freguesia de Câmara de Lobos, onde sempre esteve a sede do concelho. Fundamentava-se essa deliberação no seguinte: que a data de 16 de Outubro respeitava «a da fundação do concelho; que por tal facto se considera histórica e justamente merecedora de comemoração; que todos os munícipes viverão igualmente o acontecimento motivados pela mesma razão».

A opção pelo dia 16 de Outubro resulta, por certo, de informação recolhida no Elucidário Madeirense (1940: vol. I, p. 214), relativa à instalação definitiva do município. Contudo, não está correcto associar este dia à fundação do concelho, como ficou registado na acta da reunião ordinária de 10 de Novembro de 1977, acima citada.

De facto, o município de Câmara de Lobos foi fundado pela Portaria de 25 de Maio de 1835, simultaneamente com os de Santa Ana e do Porto do Moniz.

O 25 de Maio não se mostra, todavia, adequado para dia do concelho de Câmara de Lobos pelas seguintes razões:

  • Trata-se da data de uma Portaria que aprovou provisoriamente o distrito administrativo da Madeira e do Porto Santo, com nove concelhos na primeira ilha, isto é, acrescentando três novos (Câmara de Lobos, Porto do Moniz e Santa Ana) aos seis já existentes (Funchal, Machico, Santa Cruz, Calheta, Ponta do Sol e São Vicente).
  • Serve também para Santana e Porto Moniz como data fundadora, não conferindo, por conseguinte, singularidade ao município de Câmara de Lobos.

Investigação desenvolvida, por Manuel Pedro de Freitas, veio trazer a lume a data correcta da primeira eleição e instalação da Câmara Municipal de Câmara de Lobos – 4 de Outubro de 1835 –, documentada no Livro I de Registos da Câmara Municipal de Câmara de Lobos.

Em face do exposto, sou de opinião que a data histórica com maior significado, para se tornar o dia do concelho de Câmara de Lobos e respectivo feriado municipal, é aquela em que foi realizada a primeira eleição da Câmara Municipal e subsequente tomada de posse, isto é, 4 de Outubro, o dia do nascimento efectivo do município câmara-lobense.

15 de Fevereiro de 2017

Nota:

Em 27 de Fevereiro de 2017, a Assembleia Municipal de Câmara de Lobos aprovou a alteração do feriado municipal para o dia 4 de Outubro, sob proposta do executivo camarário.

 

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Foto: CMCL

Realizou-se ontem, 3 de Maio, na Biblioteca Pública de Câmara de Lobos, a apresentação de Poesias, de Joaquim Pestana (1840-1909), com sala completamente cheia, sendo de salientar a presença de um grupo significativo de estudantes da Universidade da Madeira.

Na mesa, encontrava-se o Director Regional dos Assuntos Culturais, o Presidente da Assembleia Municipal de Câmara de Lobos, o Presidente da edilidade, a vereadora com o pelouro da Intervenção Social, Cultura e Juventude e eu próprio.

O Presidente da Câmara relevou a importância do volume editado para o conhecimento da obra de um homem de letras, natural do concelho, associando o novo livro ao projecto de dinamização cultural do município e, em especial, à animação da Biblioteca Pública, cujo primeiro aniversário estava também a ser assinalado.

De seguida, apresentei o livro e  referi, de forma sucinta, a biografia de Joaquim Pestana, lembrando, em particular, a importância da sua obra no contexto do Romantismo e o seu significado para a Literatura Madeirense.

Foto: CMCL

O Director Regional dos Assuntos Culturais elogiou a iniciativa editorial e sublinhou a importância do investimento naquilo que permanece, caso do livro de Joaquim Pestana ou da Biblioteca Pública, como infra-estrutura estratégica para a promoção da cultura no município de Câmara de Lobos. 

Foto: CMCL

O actor António Plácido disse, depois, três poemas de Joaquim Pestana. Por fim, o Grupo Coral do Estreito de Câmara de Lobos cantou A minha terra, poema publicado em 1874 e que foi musicado por autor, por agora, desconhecido. No âmbito das investigações desenvolvidas sobre a obra literária de Joaquim Pestana, tive a felicidade de encontrar a partitura musical para uma versão daquele hino à Madeira, na posse do Doutor Aires dos Passos Vieira, que amavelmente me cedeu uma cópia.

Conjuntamente com o livro agora editado, esta canção, integrada no repertório daquele Grupo Coral, constituirá, por certo, um novo meio para dar a conhecer o poeta câmara-lobense que, entre 1870 e 1909, publicou em diversos periódicos da Madeira, Açores, Continente e Brasil.

Foto: CMCL

O Diário de Notícias, Funchal, 5 de Maio de 2010, p. 27, referiu-se à apresentação de Poesias, de Joaquim Pestana.  Ver ainda Diário de Notícias, Revista Mais, Funchal, 9-15 de Maio de 2010, p. 44.

 

Sobre este livro:

«Joaquim Pestana Poesia, organizado por Nelson Veríssimo, materializa uma competente edição crítica de poemas coligidos, com apresentação do poeta, deixando pistas para se aprofundar as coordenadas ideológicas e as práticas sociais que instruíam a produção literária na Madeira do séc. XIX.»

Thierry P. Santos, Diário de Notícias, Funchal, 17-07-2010

 

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Mesmo com valor reconhecido, alguns escritores não tiveram a felicidade de ver a sua obra publicada em livro, quase sempre por razões financeiras. Os poetas foram os que mais sentiram essa dura realidade. Entre nós, o câmara-lobense Joaquim Pestana viveu, com mágoa, tal situação.

Nascido em 1840, dedicou grande parte da sua vida à leitura e à escrita, apesar da doença e dos fracos recursos económicos. Publicou em mais de duas dezenas de periódicos da Madeira, Açores, Continente e Brasil. Em vida, recebeu elogios e incentivos para publicar. Era um cidadão respeitado e estimado que mantinha larga correspondência com intelectuais portugueses e estrangeiros. Alguns dedicaram-lhe poemas, prática, na verdade, bastante cultivada na sua época. 

Quase no final da vida, em 1903, anunciou o livro Espinhos e Flores, constituído por inéditos e poemas já publicados. Mas morreu seis anos depois, sem dar à estampa a anunciada e tão esperada obra literária. 

O Padre Eduardo Pereira, amigo do poeta, herdou o seu acervo. E em 1937 e 1959 sugeriu a publicação de Espinhos e Flores. Fernando Augusto da Silva, o Visconde do Porto da Cruz, José António Gonçalves, José de Sainz-Trueva, Manuel Pedro Freitas e eu próprio, em diferentes ocasiões, lembrámos a necessidade de editar o livro inédito de Joaquim Pestana. 

Entretanto, o paradeiro desse livro, depois de 1976 na posse dos herdeiros de Eduardo Pereira, parece que deixou de ser conhecido nos anos 90 do século passado. 

Tão misterioso descaminho não poderia, contudo, representar impedimento à publicação. Quando se conjugam vontades, os projectos avançam. Assim aconteceu. A Câmara Municipal de Câmara de Lobos assumiu a edição e o livro está pronto para vir a lume amanhã, no 1.º aniversário da Biblioteca do município. 

Na impossibilidade de aceder ao volume preparado por Joaquim Pestana nem, tão-pouco, ao seu acervo, considerou-se preferível editar uma compilação em vez de uma selecção de poesias. Para esta decisão, contribuiu também a certeza de ser ainda desconhecida a verdadeira dimensão da sua obra poética. Reuniu-se, por conseguinte, a poesia coligida, até à data, na imprensa periódica, álbuns e bibliografia disponível, num total de cento e quarenta e cinco composições.

 Cumpre-se, assim, parcialmente, o propósito do poeta, acalentado nos últimos anos de vida: editar um livro com poesias esparsas por almanaques, álbuns e jornais de permeio com composições inéditas.

 Este volume de Poesias facultará, por certo, a compreensão da obra e do labor de um ilustre câmara-lobense que pugnou para ultrapassar as fronteiras da ilha e da doença, conservando-se, toda a vida, fiel ao romantismo, que se manifestava num lirismo melancólico e numa intensa religiosidade cristã. 

No poema «Desalento», Joaquim Pestana compara a sua vida com o mar, para transmitir a ideia de que o infortúnio lhe chegara de «vaga em vaga». É certo que a sua poesia está dominada pelo culto do pessimismo funéreo, tão característico do romantismo tardio. Ainda assim, aquele «de vaga em vaga» retrata bem uma vida marcada pela enfermidade, tristeza e solidão. 

No entanto, a ausência de saúde e o domicílio permanente, quase toda a vida, numa vila piscatória, não o impediram de, através das publicações onde colaborou com assiduidade, galgar obstáculos e, abundantes vezes, afirmar o nome da terra natal, principalmente, quando escrevia sobre o seu concelho ou, quando abaixo da identificação, deixava bem expressa a naturalidade.

 Diário de Notícias, Funchal, 2 de Maio de 2010

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Quatro poemas
de Joaquim Pestana (Câmara de Lobos, 1840 – Funchal, 1909)

   

  

   

   

   

   

   

   

♦ MINHA MÃE
(Numa doença)  

Quisera a vida mais longa
se mais longa Deus ma dera,
porque é linda a Primavera,
porque é doce este arrebol.
Casimiro de Abreu  

Minha mãe: eu sinto a vida
a fugir-me como um ai,
que esta fronte enlanguescida
sobre o peito me descai!  

Minha mãe: eu sinto o pranto
a correr na face minha!…
Oh! deixai que o doce canto
vá dizer-te a dor que tinha!…  

Minha mãe: o mundo esconde
negro luto, a ingratidão!…
Onde achar carinho, aonde,
que me alente o coração?  

Minha mãe: só tu me dizes:
– «Filho, ai! filho, o seio teu
«tem a dor dos infelizes,
«diz que alguém te perdeu!»  

Minha mãe: o doce brilho
que minha alma fascinou…
fez-me errar o mago trilho
deu-me a dor que me finou!  

Minha mãe: deixa que penda
minha fronte ao seio teu;
dá-me a luz na triste senda,
dá-me alento ao peito meu!  

♦ A MULHER DO PESCADOR
(Canção)  

Em céus e mares escuros
luz sempre a estrela da fé.
T. Ribeiro – Indiana  

Dorme, filho sossegado,
que teu pai não tarda, vem;
vejo o mar encapelado,
a bramir na praia, além!  

Dorme, dorme! que sorriso
tu m’imprimes no dormir!
aí bem pode o paraíso
te mostrar um só fruir.  

Quem me dera, inocentinho,
ver do céu a tua luz,
embalado aqui, sozinho,
sem gozar do mundo a cruz!  

Sem sentir, meu Deus, a vida
que, tão triste, me foi dada;
ver-me quase sem guarida,
sem amor, sem luz, sem nada!
……………………………
……………………………
Dorme, filho, sossegado,
que teu pai não tarda, vem;
vejo o mar encapelado,
a bramir na praia, além!  

♦ DESALENTO
(Num álbum)  

Vem, senhora, medir nos sons de luto
minhas vozes de amor e sofrimento:
– «Vou da morte pagar o meu tributo,
porque é fundo e cruel o meu tormento!…  

Tu, formosa, cresceste, és sempre bela,
tens sorrisos de amor de quem te afaga;
vai seguindo esse bem na doce estrela…
eu, da vida no mar, de vaga em vaga!…  

Vê que fundo pesar! Num raio d’ouro
vem-te o mago sorrir de amor, esp’rança;
eu só vejo perdido o meu tesouro
num destino cruel sem ter bonança!…  

Vai seguindo esse bem, gentil senhora,
que o porvir é de luz e f’licidade!…
Só minha alma fenece e treme e chora,
porque vê que lhe foge a mocidade!»  

♦ SAUDADES
(Numa doença)  

Silêncio! deixa
Ao coração do triste o seu segredo.
Garrett – Camões  

Quem me dera sonhar meus sonhos ledos,
de gratas impressões;
sentir a doce voz dos meus segredos…
das magas ilusões!…  

Era bela a visão da mocidade,
das graças juvenis!…
Oh! sol, que vais subindo à imensidade,
dizei porque subis?  

É que foge comigo a doce vida
nos ais de ingente dor;
é que sinto na fronte enlanguescida
da morte o frio horror!  

Bem cedo vi fugir da minha aurora
a paz dessa harmonia!…
Ninguém me disse: – «vai pensando, chora,
que é certo o novo dia!…»  

Depois… eu vi morrer meus sonhos d’ouro
ao sol da juventude!…
Perdi a doce luz do meu tesouro
no bem dessa virtude!…  

In Joaquim Pestana, Poesias, Câmara de Lobos, Câmara Municipal de Câmara de Lobos, 2010,  (compilação, prefácio e organização de Nelson Veríssimo). ISBN 978-989-96733-0-4. 

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Joaquim Pestana

  

Joaquim Pestana

Nasceu a 24 de Dezembro de 1840 na vila de Câmara de Lobos, sendo filho de António Pestana e de Genoveva Cândida de Jesus. Morreu na freguesia de S. Martinho, do concelho do Funchal, a 6 de Fevereiro de 1909.

Brevemente, será editada, pela Câmara Municipal de Câmara de Lobos, uma compilação dos seus poemas, até agora dispersos por várias publicações periódicas.  O livro será apresentado no próximo dia 3 de Maio,  pelas 18:00 h, na Biblioteca  Municipal de Câmara de Lobos. Constituirá, por certo,  justa homenagem ao poeta que, no final da vida, preparou e anunciou um livro – Espinhos e Flores, mas que, infelizmente, não logrou ver concretizado.

Do poeta câmara-lobense, o seu amigo e conterrâneo, Padre Eduardo Pereira (1887-1976), deixou singular testemunho:

Considerado dentro da época literária em que viveu, a do Romantismo, Joaquim Pestana foi um dos mais distintos e prolíferos poetas líricos deste arquipélago. Como poeta do género ultra-romântico, seguiu a Escola do seu fundador, A. A. Soares dos Passos, filiando-se na corrente do Novo Trovador, cujas composições se inspiravam no sentimento e na natureza, e eram repassadas dum lirismo melancólico, saudosista e doentio. (Das Artes e da História da Madeira, n.º 29, Funchal, 1959, p. 29)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CÂMARA, Jayme, «Joaquim Pestana», Almanach de Lembranças Madeirense para o anno de 1909, Funchal, J. M. da Rosa e Silva – Bureau de La Presse, 1909, pp. 98-101.

FREITAS, Manuel Pedro (ed.), «Joaquim Pestana: colectânea de textos e poemas», 2001. [Consult. 5-2-2009] Disponível em:

http://www.concelhodecamaradelobos.com/dicionario/pestana_joaquim.html

GONÇALVES, José António, «Joaquim Pestana: no 150.º aniversário do nascimento do poeta câmara-lobense ultra-romântico», Girão, n.º 4, Câmara de Lobos – Madeira, 1990, pp. 125-128.

MARINO, Luís, Musa Insular (Poetas da Madeira), Funchal, Editorial Eco do Funchal, 1959, pp. 155-157.

PEREIRA, Eduardo, «Joaquim Pestana», Diário da Madeira, Funchal, 29-6-1937, pp. 1 e 5.

_____, «Joaquim Pestana», Das Artes e da História da Madeira, n.º 29, Funchal, 1959, pp. 29-32.

PORTO DA CRUZ, Visconde do, Notas & Comentários para a História Literária da Madeira, II vol., Funchal, Câmara Municipal do Funchal, 1951, pp. 118-121.

SAINZ-TRUEVA, José de, «Lembrança de Joaquim Pestana», Girão, n.º 11, Câmara de Lobos – Madeira, 1993, pp. 537-541.

SANTOS, Rui, «Um texto de Joaquim Pestana», Girão, n.º 7, Câmara de Lobos – Madeira, 1991, pp. 323-324.

SILVA, Padre Fernando Augusto da, «Poetas madeirenses», Das Artes e da História da Madeira, n.º 24, Funchal, 1956, pp. 18-22.

TEIXEIRA, Mónica, Tendências da Literatura na Ilha da Madeira nos séculos XIX e XX, Funchal, SRTC-CEHA, 2005, pp. 41-70; 433-441.

VERÍSSIMO, Nelson, «Escritores de Câmara de Lobos: Câmara de Lobos num almanaque, pela pena de Joaquim Pestana», Girão, n.º 9, Câmara de Lobos – Madeira, 1992, pp. 417-421.

_____, «1.º Centenário da morte de Joaquim Pestana», Diário de Notícias, Funchal, 8-2-2009.

 

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Na passada sexta-feira, ocorreu o primeiro centenário da morte de Joaquim Pestana, poeta nascido em Câmara de Lobos a 24 de Dezembro de 1840 e que morreu no Funchal em 6 de Fevereiro de 1909.

 

Na agenda Câmara de Lobos – Município da Cultura, 2009, a data não foi assinalada.

 

Diversas vozes, em várias épocas, chamaram a atenção para a obra literária de Joaquim Pestana, a fim de não cair na tumba do esquecimento. Igualmente, muitos têm sido os apelos para que a Câmara Municipal de Câmara de Lobos edite a sua produção poética, inédita ou dispersa por publicações periódicas.

 

Em 1990, por ocasião do 150.º aniversário do seu nascimento, José António Gonçalves (1954-2005), na revista Girão, dedicou um artigo ao poeta e anunciou que a edilidade câmara-lobense se mostrava sensível à publicação de um volume de poesia de Joaquim Pestana.

 

Nesse artigo, Gonçalves surge como «coordenador da próxima edição de Espinhos e Flores, de Joaquim Pestana, a ser lançada com o patrocínio da Câmara Municipal de Câmara de Lobos».

 

Deste projecto editorial falou também José António Gonçalves, com o entusiasmo que lhe era característico, num programa Pôr-do-Sol da RTP-Madeira, conjuntamente com Manuel Pedro Freitas. Aí anunciou a edição da obra, que preparava, na colecção Terra à vista, por si idealizada, da editora Arguim. Revelou ainda ter consultado os inéditos de Joaquim Pestana, então na posse do Engenheiro João Francisco Ferreira, nomeadamente a colectânea Espinhos e Flores.

 

A prometida edição não chegou, porém, a concretizar-se. Contudo, Manuel Pedro disponibilizou, em Câmara de Lobos: dicionário histórico, corográfico e biográfico, uma colectânea de poemas e textos de Joaquim Pestana, alguns dos quais publicados anteriormente na revista Girão [1].

 

Espinhos e Flores é o título da colectânea de poemas que Joaquim Pestana preparou para edição, mas que não chegou a vir a lume. Já em 1901, o poeta referia a intenção de publicar este livro.

 

O Padre Eduardo Pereira (1887-1976) herdou este inédito e outras espécies do acervo do poeta câmara-lobense, seu amigo, e a quem assistiu na hora da morte. Tanto este sacerdote católico quanto o Visconde do Porto da Cruz, na década de 50 do século passado, lembraram à Câmara Municipal de Câmara de Lobos a necessidade de editar Espinhos e Flores.

 

Referindo-se à imprescindível antologia do poeta, Eduardo Pereira escreveu, com mágoa, em 1959: «Fica a iniciativa para quando houver em Câmara de Lobos uma edilidade que, interessando-se por resgatar a memória do poeta do laconismo e lamentável esquecimento em que vive, lhe fizer justiça e o impuser à admiração dos seus conterrâneos, presentes e vindouros.»

 

Nos anos 90 do século passado, com Manuel Pedro Freitas, José António Gonçalves e José de Sainz-Trueva, sugerimos a publicação da obra de Joaquim Pestana à Câmara Municipal de Câmara de Lobos. No entanto, até hoje não se verificou a esperada e merecida edição em livro.

 

Estando estatisticamente demonstrado o pouco investimento da maioria das autarquias na Cultura, nunca é por demais insistir na necessidade de associar o município da Cultura a iniciativas duradouras. Espectáculos, torneios desportivos, cortejos, iluminações, fogo de artifício, arraiais, tudo isso é atractivo, enche o olho do eleitor, mas é efémero. Pouco tempo depois nada ficará na memória. Urge, pois, investir naquilo que perdura. Um livro, por exemplo, será útil a muitas gerações e permanecerá disponível durante largo tempo.

 

Assim, a Câmara Municipal de Câmara de Lobos tem, neste ano festivo, a obrigação moral de resgatar a memória de Joaquim Pestana, promovendo a edição de uma antologia da sua poesia e celebrando a memória de um distinto homem de letras que, no seu tempo, engrandeceu a terra que o viu nascer e divulgou-a até onde chegou a sua escrita.

 

Diário de Notícias, Funchal, 8 de Fevereiro de 2009

 

 


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