Palavras proferidas na apresentação de Funchal 500 anos: momentos e documentos da História da nossa cidade, Funchal, SREC-DRAC-ARM, 2010, e O meu concelho… Funchal, Funchal, SREC-DRAC-ARM, 2010, no Arquivo Regional da Madeira em 10 de Fevereiro de 2011:
Ainda sob a motivação do 5.º centenário da criação da cidade do Funchal, vêm agora a lume Funchal 500 anos: momentos e documentos da História da nossa cidade e o Caderno Pedagógico O meu concelho… Funchal, com a chancela do Arquivo Regional da Madeira, bem como uma separata do primeiro livro com a Cronologia do Funchal, entre 1419 e 1976.
Na verdade, o Quinto Centenário desta cidade possibilitou a publicação de muitos livros, fazendo de 2008 o melhor ano de sempre para a Madeira, no que diz respeito à actividade editorial.
A comemoração de uma data histórica e as iniciativas município da cultura ou capital da cultura deveriam ser sempre assinaladas com obras perenes. Investir somente no efémero é desperdiçar a oportunidade de despender com proveito os dinheiros públicos. Paralelamente com o espectáculo, importa perpetuar a celebração com obras úteis para os vindouros.
Felizmente, as comemorações dos 500 anos do Funchal contemplaram, em boa medida, a edição, resultando, desse salutar princípio, benefício considerável para as gerações do presente e, certamente, para as que hão-de vir.
Quis também o Arquivo Regional associar-se à efeméride funchalense, não se cingindo ao calendário oficial, mas pautando-se pelo rigor que a pressa nunca permite cultivar.
Como afirmou a Senhora Directora do Arquivo:
«Festejar a longevidade e a riqueza da história da nossa cidade foi somente mais um pretexto…»
Pretexto para a publicação das obras que, com muita honra, agora apresentamos.
E neste pretexto, inteligentemente gerido, sublinhamos três aspectos que reputamos de fundamentais:
1.º Salientar, nos 500 anos da História de uma cidade, os momentos mais significativos da sua evolução e, em sínteses claras, concisas e motivadoras, implica conhecimento profundo, domínio da matéria e reflexão amadurecida sobre o assunto.
2.º Conciliar o rigor da informação histórica com propósitos e iniciativas pedagógicas, tendo em vista despertar, nas novas gerações, o gosto pelo conhecimento da História da sua terra, demonstra entendimento esclarecido do papel das instituições culturais nos dias de hoje.
Na actualidade, os arquivos não servem somente para salvaguardar documentação e disponibilizá-la aos que a procuram na sua sala de leitura. Aos arquivos, como aos museus e outras instituições congéneres, cabe, neste tempo, a nobre missão de oferecer ao potencial leitor, visitante ou consumidor os acervos que à sua guarda estão confiados.
O tempo das trancas acabou. Ainda se encontra por aí – eu bem sei – resquícios desse aferrolhamento, mas a tendência é para acabar com a mania retrógrada de tratar o acervo de uma instituição pública como se fosse um cofre, onde quem dirige guarda as preciosidades, que não lhe pertencem, para gáudio pessoal ou dos seus amigos.
Atente-se que desde o início deste mês o googleartproject.com permite-nos desfrutar de mais de 1000 obras de mais de 400 artistas diferentes, numa parceria com vários museus de todo o mundo. Mas também não será por acaso que não aparece nenhum museu português. No entanto, isso é outra história.
Se pensarmos que há 20 anos havia museus que não permitiam a edição de postais das suas colecções e agora generaliza-se a tendência de disponibilizar ao máximo, recrudesce, em nós, a consciência de que muito mudou.
O nosso Arquivo, felizmente, tem vindo, nos últimos anos, a adoptar esta linha de permitir ao leitor, ao potencial leitor ou à juventude, conhecer cada vez melhor o seu acervo, quer através de instrumentos descritivos, bases de dados, publicações, visitas e actividades programadas.
Esta preocupação merece ser salientada, quando as publicações agora apresentadas contemplam essa vertente pedagógica que os Serviços Educativos desta casa tão bem cultivam.
O 3.º aspecto desta reflexão refere-se ao processo de execução das obras agora apresentadas. Tudo isto implica ideias, planeamento, debate, congregar de diferentes vontades, empenho, dinamismo, gestão de divergências, coordenação…
Mas a vitalidade de uma instituição – e o Arquivo Regional é das mais antigas instituições culturais da Madeira – afere-se também com iniciativas desta natureza, que mobilizam vontades e trazem a instituição para a comunidade e a opinião pública.
E permitam-me que aqui sublinhe o papel da Dr.ª Fátima Barros que, como directora do Arquivo e coordenadora destas edições, sabe, no seu universo, realizar projectos desta natureza e grandeza, seleccionar e gerir contributos vários, dando também aos que aqui trabalham a oportunidade de demonstrarem ou afirmarem as suas qualidades profissionais neste tipo de tarefas.
A todos os que colaboraram e tornaram possível estas publicações, como leitor, estou profundamente grato e feliz pelo vosso trabalho; como professor, mais agradecido fico porque doravante incluirei Funchal 500 anos: momentos e documentos da História da nossa cidade e O Meu Concelho… Funchal na bibliografia que recomendo aos meus alunos, futuros educadores.
Por fim, ouso contrariar a vontade de um velho amigo, com quem, desde há anos, mantenho proveitosa conversa no fim de algumas tardes.
Perguntei, na passada terça-feira, ao Jorge Valdemar Guerra o que, em seu entender, deveria ou poderia dizer nesta apresentação. E ele disse-me de repente, no seu jeito peculiar: «De mim, não digas nada!».
A frase poderia ser um título de uma letra de um fado: «De mim, não digas nada». Mas não, era, é a sua vontade.
Desculpa, Guerra, vou dizer muito menos do que tu verdadeiramente mereces pela tua significativa quota-parte nestas edições. Mas tenho de dizer: do teu rigor, método, capacidade de trabalho e até dessa solidão ou união de facto com documentos, fotografias, gravuras, casas, capelas e igrejas e sei lá que mais, muito ficará a dever a historiografia madeirense. Só quem verdadeiramente conhece e domina muito bem a História, pode apresentar os Momentos e a Cronologia vindos hoje a lume.
Dirás que falta muita coisa, e se mais tempo tivesses… outros dados registarias. Pois é verdade, mas, como um dia afirmou o saudoso Professor Joel Serrão, também ele autor de uma cronologia da História de Portugal, a cronologia é obra de Sísifo, essa personagem da mitologia grega, que desafiou os deuses e enganou a morte, e, por toda a eternidade, foi condenado a rolar uma grande pedra com as suas mãos até o cume de uma montanha. Contudo, mal alcançando o cimo, a pedra rolava novamente montanha abaixo, impelida por misteriosa força. E, continuadamente, Sísifo tinha de recomeçar a caminhada.
Assim é a Cronologia: trabalho para reajustar ou refazer conforme os resultados de novas pesquisas.
Mas, sem dúvida, instrumento valioso que, conjuntamente com os Momentos da História do Funchal, ajudarão todos nós a compreender e a divulgar a nossa cidade. Possibilitará, sem dúvida, o fortalecimento da nossa identidade cultural.
Parabéns ao Arquivo e a todos os que contribuíram para estas edições que, pelo rigor e seriedade, serão, por certo, extremamente úteis para a divulgação da História do Funchal, em especial entre os estudantes madeirenses.
Que saiba a Escola aproveitar esta oportunidade para incluir, nas actividades lectivas, muitas das ideias e sugestões que estes livros apresentam ou suscitam.
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